Escrevo esse texto com músicas dos Novos Baianos ao fundo, um quentinho no coração e mil lembranças boas na cabeça.
Se você nunca foi a Bahia, vá. Antes de ir a Nova York, fazer compras, antes de ir a Londres dançar nos pubs modernetes e antes de ir a Paris passear com seu grande amor. Vá a Bahia.
Saí de casa pra ver o mar, depois de mil anos, para mim era como conhecer o mar de novo, um sonho de menina, tão bobo e fácil de ser realizado, que por causa do destino e da vida, para mim, era longe demais.
Cheguei muito cedo ao aeroporto e tudo ali era lindo, era vida, era gente bonita chegando e saindo, filas para tantos sonhos, tantos encontros de amor. Todo mundo era feliz ali.
Entrei no avião, um rivotril no bolso e quase quebrando a mão do meu pai. Escolhi ir na janela, porque vocês sabem, eu nunca corri do medo, apesar de estar sempre pronta para gritar fugindo dele.
O rivotril não foi necessário, eu gritei algumas vezes, nas curvas, que o avião estava caindo, mas nada que fizesse eles pedirem para eu me controlar. Só meu pai dava risada.
Da janela, entre as nuvens, o sol nascia. E no meio do meu medo, eu vi o mar, arctic monkeys tocava Cornerstone e eu chorava sem esforço. Sem ninguém ver, porque ninguém entenderia. Uma vitória, depois de tanto, de tudo, dos medos, dos eus.
Chegamos no aeroporto de Porto Seguro, pegamos um táxi e eu quis parar na praia.
Eram 7 da manhã na Bahia, o mar estava calmo e na minha cabeça, passava uma vida toda, quando a onda bateu em mim, foi um misto de alegria e dor, tipo estar apaixonada. Dessa vez não chorei, mas amava muito.
Chegamos a Arraial d'Ajuda e o hotel era lindo, uma mesona de café da manhã, uma baiana a disposição dos hospedes para fazer mil quitutes e coisas que em Minas não estamos acostumados. Provei tapioca, mungunzá, bolo de pão de banana. Mil delícias.
O primeiro dia foi tranquilo, na praia do Mucugê, apenas eu e os meus pais. A alegria da minha mãe era linda de ver, eu sabia que para ela estar ali também era uma vitória. A noite, conheci o pessoal do hotel e duas paulistas com quem fiz uma amizade bonita, foram minhas irmãs de verão. O segundo dia, fomos as 3, explorar Arraial. O centro é um lugar delicioso, cheio de lojinhas e bistrôs que parecem cidade de boneca, casinhas coloridas. Gente de todos os lugares do mundo. Muitas línguas, sotaques, risadas.
O mirante atrás da igreja é coisa de sonho, amarrei minhas fitinhas e fiz os pedidos
. Não custa nada ter fé e ver coragem no amor.
A rua do Mucugê, é um espetáculo a parte, a noite lá tem os bares
mais charmosos da Bahia, sem sombra de dúvida. O pub La Morocha é ponto
de encontro dos jovens, aonde eu e as meninas estivemos na quinta-feira,
nosso quarto dia na Bahia.
A praia da Pitinga foi nossa escolhida para passar o terceiro dia, por ser mais perto de nosso hotel e ter um restaurante charmoso e lindo, cheio de redes, balanços e tocando Chico. Sim, era um sonho bom.
O mar gostoso, comida boa e drinks baratos. Acho que a Bahia é o paraíso. Na praia da Pitinga, é fácil ver as falésias descritas por Pero Vaz de Caminha, na carta a Portugal. Não é difícil descobrir porque os portugas acharam a beleza daqui semelhante a uma pintura.
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ao fundo, as falésias. |
A noite de Terça, na Terra que ninguém fica triste, fomos a um lual, cheio de gringos e suas obsessões por aprender a sambar e eu, que quase não sei , virei atração no meio deles, afinal, no sangue e no quadril, correm sangue latino.
A Quarta-feira para mim, foi um espetáculo a parte, depois de acordar cedinho, e comer feito uma grávida de trigêmeos e enfrentar uma hora e meia de viagem, ouvindo todas as varições da música do Cavalinho, descobrindo que o grupo de 8 paulistas que estavam com a gente, realmente sabia fazer rir, chegamos ao lugar mais bonito do mundo :
Trancoso.
Enquanto eu temia acordar e descobrir estar ainda na minha casa em BH, o guia mostrava as casas dos famosos, as delimitações da praia de nudismo e as barracas mais famosas.
Chegamos ao famoso Quadrado, uma espécie de rua, que foi a morada dos Padres das Missões Jesuítas no Brasil. Os padres sabiam escolher bem, o lugar, além de lindo, tem uma das melhores energias que já senti. E depois da Igreja, o mirante de São João Batista é uma visão de tirar os pés do chão. Até o cemitério do povoado, na beirada do mirante, é lindo. Ser enterrado ali, deve ser ficar com os dois pés, já no paraíso.
Cada casinha, cada bistrô, tem um morador ou alguém com dinheiro o suficiente para se manter ali (o preço de cada casinha dessa, a venda, é de mais de 2 milhões) cheio de sorriso e graça. Claro, acordar todos os dias com esse visual, deve ser a coisa mais gostosa do mundo.
Estávamos eu e o Vini, um dos paulistas do meu grupo e eu resolvi tirar uma foto dentro de uma das casinhas, na janela. Escolhi uma laranja, minha cor favorita e munida de fotógrafo, câmera e coragem, pedi ao morador. Não era brasileiro, comum ali, era inglês, ainda bem. Me resolvi com ele, ele deixou com muito carinho eu tirar a minha foto e misturando o inglês e o espanhol, tentava parabenizar o Vini pelo casamento ''mui bela su wife''. Sem entender nada, o Vini ria e concordava. Depois, fui descobrir que ali é o primeiro destino de lua de mel no Brasil. É, se amar em Trancoso deve ser encontrar a essência do amor. Quem sabe um dia...
Em frente a igreja de São João, tem um marco, que segundo os nativos, se você der 3 voltas, arruma um marido bom. Dei umas 20, porque vocês sabem, a coisa não está fácil aqui.
As praias de Trancoso são diferentes das de Arraial, são mais bravas, mais perigosas... cheias de surfistas lindos e bronzeados.
A noite, parece que a coisa começou a funcionar, num show do Olodum, que eu jamais me veria indo e fui, por que quem tá na Bahia, meu rei, bom.... não pode fugir de ir a um show deles, é coisa de louco. E lá, eu conheci um espanhol que bom, fica um pra um outro texto.
Chegamos no hotel 5 da manhã e o porteiro, um querido e fofo, nos convidou para ver o sol nascer no mar. E uma baleia jubarte, famosa na região, resolveu fazer um show particular para a gente. Ali e de noite, quando vi a lua despontar no mar, descobri que nem tudo a gente pode fotografar, algumas imagens ficam só comigo.
Quinta-feira, mais do que nunca, a Bahia toda já respira Carnaval, em Arraial não era diferente, mas no La Morrocha, conseguimos fugir do axé e no o esquenta rolou no Beco das Cores, outro lugar incrível na Mucugê, com uma roda de samba deliciosa. Quero voltar !
Sexta fomos conhecer Coroa Vermelha, depois de Porto Seguro, chamada de Caribe da Bahia, aonde realmente se vê o marco aonde Cabral desceu e um monte de Oca de índios. Bem fofo. O mar quase não tem onda, uma beleza para quem tem criança, afinal, dá para ver os siris e os peixinhos na água cristalina, a criançada ama.
A noite, era hora de despedir das amigas paulistas, e o carnaval não parava de gritar : CHEGUEI !
A cidade começou a lotar, e no sábado de manhã, já era difícil ouvir português nas ruas, os espanhois e ingleses, dominam a cidade nessa época, só se ouve ''carnival'', ''samba'', ''caipirinha''. Fiz um bico de tradutora para um australiano e resolvi curtir minha última noite na Bahia, no hotel, quietinha, vendo o mar.
Um dia eu volto, Bahia, um dia eu volto...
Bem pertinho do meu hotel, essa placa. Não esqueço, não esqueça. Valeu Bahia.