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terça-feira, 11 de abril de 2023

Fundando as estruturas



 Recomecei. E da altura dos anos que eu tenho medo de encarar posso dizer que aprendi que é o meu superpoder: levantar e recomeçar. A menina de 14 anos que escrevia nesse blog ia ficar impressionada ao saber que encarei sozinha uma viagem de 10 horas de ônibus entre dois Estados em que eu não conhecia ninguém, só pra ser feliz. Que eu andei de cavalo na beira do mar, que eu fui 3 vezes aos desfiles de escola de samba no Rio. Conheci Salvador e lá tive o melhor encontro da minha vida: com minha liberdade e minha alegria. Que eu vivi uma história com um garoto skatista lindo passeando de mãos dadas nas areias de ipanema e ele nem virou um texto daqui. Ela também ia ter que saber que aquele medo de ter uma crise de pânico e não poder voltar pra casa imediatamente aconteceu, mas a gente não morreu não. A vida profissional é minúscula mas cada passo chego mais perto do meu caminho. 2022 foi de alegrias imensas, as maiores da vida. Mas também de confronto com uma apatia e vontade de morte que nunca conheci. E estou renascendo. Não tenho mais medo dos meus abismos porque eles moram em mim. Um dia de cada vez é a oração mais bonita do mundo. Mais uma vez inventei um romance para ver de novo brilho na vida mas finalmente aprendi a calar a boca. Levei as coisas boas na mala de mão e vazei. Cada dia que passa eu gosto mais de mim e eu queria voltar aqui pra dizer isso.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Era para ser 15 dias


Quantas vezes morremos e renascemos numa mesma vida? Não sei. Mas me lembro com exatidão de como um dia de março de 2020, no meu lugar favorito do mundo, eu senti como se ali, talvez realmente completa pela primeira vez na vida, estivesse chegando ao fim uma temporada da minha vida - com final feliz. Onde eu estava realizando sonhos, encarando medos e acreditando que sim, o futuro viria e muitas vezes eu estaria sozinha, mas já tinha aprendido o caminho para meu próprio colo. 

Então veio a pandemia. Então as pessoas que eu admirava não se importavam tanto assim com o avô do próximo morrer. Então o homem que comanda o país debocha dos mortos e tudo certo. E eu, que sequer aguentava as férias ociosas sem ter uns pensamentos horríveis me vi largando emprego, formando e vendo a juventude sair pelo ralo. Eu sou privilegiada, eu posso ficar na cama chorando minhas incertezas. Mas o tempo não volta. Muita gente que eu amo está em sua própria batalha para não enlouquecer, mas muitas vezes pensar nisso não alivia o sentimento de ser a pessoa mais sozinha do mundo. Fazem 7 meses que eu não saio de casa, fora duas idas ao médico e umas 5 ao supermercado. Morri, não teve jeito. Abri mão da meu único orgulho em não pedir ajuda para o problema que sei que mais ninguém além de mim é capaz de resolver. E ainda tenho sonhos, mas hoje sei que a vida segue tranquilamente sem mim. Dormir entorpece a dor de não saber mais quem eu sou. Eu não interesso a ninguém e pensar nisso me dá até alívio. 

Migalhas de estrelas fantasiadas de libido. Mudei de terapia e dobrei a dose do remédio, o que ainda não descobri como fazer é renascer de novo. Um dia, um dia recomeço....

domingo, 27 de dezembro de 2020

Vinte vinte, um pouco de solidão e umas coisinhas soltas

 

"Você não é uma pessoa difícil de ser amada. Você está tentando." Foi isso que eu tive que me dizer quase todos os dias do ano da graça de 2020, onde o mundo inteiro está lutando para sobreviver, para não surtar, para não ir embora, para ter esperança. Eu tenho medo da tal maturidade me banhar pra sempre de amargura. Eu não amo mais ninguém. Eu me chamaria de doida - e como diz o Rosa, nessa casa (eu) ninguém diz a palavra doida - se me contassem no final de 2019 que eu me afastaria de tantas pessoas que naquele momento eram meu suporte, que eu colaria grau na faculdade por um computador, que eu estaria ganhando dinheiro com o que ando fazendo, que eu veria meus amigos um número de vezes que desse pra contar na mão. Que eu assumiria pra mim mesma, de uma vez por todas, que eu amo romance e isso seria a chave para parar de me sabotar tentando desesperadamente sentir algo por homens que claramente não me queriam, só porque sentir algo era melhor que não sentir nada. Seria loucura dizer da angústia e solidão que senti mas que eu estou viva, estou de pé. Seria impossível pensar que eu viveria o dia mais feliz da minha vida ao lado de uma amiga e meses depois eu veria essa amiga passar pela maior dor da sua vida sem eu poder lhe dar um abraço. Eu não amo mais ninguém porque de repente todo mundo virou egocêntrico e eu também virei. Eu tento tento tento e muitas vezes não consigo melhorar. Mas eu mereço ser amada. As piores crises desde 2012 apareceram e eu sobrevivi, mesmo tendo que encarar que essa sombra talvez me persiga pro resto da vida. Eu quero ser potência, ser rio que corre pro mar mas viver é difícil. Eu quero ser mais gentil comigo e com meus pais, quero ler, botar os pés no mar, me encontrar comigo. Quero me vacinar e poder sair sem medo da morte. Quero não pensar em nada que seja irracional. Quero sonhar grande e encontrar meu caminho. Quero ser abençoada pelo Deus que acredito e que acredita em mim. Quero dançar com a vida. Quero me amar.



quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Amorosa - mas não de 1977



Amorosa, como o disco dJoão, mas não tão velha, apesar das nossas piadas e da minha surpresa em como a alguém que mal saiu dos 20 anos, saiba tantas coisas e me faça sorrir e revirar os olhos. Eu nunca tinha beijado alguém pela primeira vez dentro d'água. E desde que eu me entendo por gente, o que eu mais amo na vida é estar dentro d'água . Mas eu também nunca tinha me enfiado num date que obrigatoriamente duraria 24 horas. Primeiro eu achei que não ia acontecer e eu somaria essa história aquelas em que conto de um jeito que meus amigos riem até a barriga doer, mas você foi. Hoje eu sou livre. Ganho meu dinheiro, não tenho tanto medo da morte, consigo sentar e avisar que estou sentindo medo mas que vou dar conta. Só a droga do romance que não me deixa em paz. E então você me lembrou que é isso, mesmo com todas as horas de estudo, mesmo com os perregues, a terapia, todos os livros, as crises, mesmo levantando sozinha do mais fundo que cheguei e sabendo da minha força, não tem remedio e nem cura porque eu sou cafona. Eu amo um romance. Isso não tem nada a ver com futuro, eternidade, juras. Eu até acho que a gente nunca mais vai se ver, porque virão outras garotas que entendem dos teus números, investimentos e bolsas e talvez por aqui venham outros caras que gostem de carnaval, que me achem incrivel trabalhando com qualquer coisa e achem legais as coisas que eu conto como se fossem novidade. Mas foi tão fácil gostar do seu cheiro. Mesmo sendo um saco eu falar do meu passado, foi fofo você rir e a gente fazer piada por saber que falar me cura. Foi tão bonito te ver querendo me deixar confortável e segura, porque o mundo tá uma loucura e a gente pode morrer porque beijou alguém. Foi tão gostoso ficar agarrado e usar meu melhor shampoo porque você queria dormir sentindo o cheiro do meu cabelo. Foi como ser feliz de novo e eu odeio isso porque eu já sei ser feliz sozinha mas eu me encontrei a parte de mim que não tem medo e é justamente por isso que escrevo, eu não tenho medo que você descubra, eu não tenho medo que você leia, porque independente do que vier, eu dou conta. Na verdade é possivel ser feliz sozinho mas nem sempre eu preciso. Talvez eu não seja tão sensacional, talvez eu não seja Deusa, talvez você tenha fingido tudo e eu nem ligo. Você me levou ao prazer em pouco tempo que parecia  já  conhecer a casa. Todas as piadas, a mulher brava porque eu queria lavar um copo, o cara achando que éramos  famosos, você buscando sorvete e eu te olhando cozinhar e achando poesia, tudo isso era uma musica do João Gilberto no meu coração. Eu queria te levar na minha cidade de sonho e te ver olhar o mar, ir com você nos museus e a gente dividir um com o outro todo conhecimento de uma vida amando ler e ir aos museus. Mas acho que não vai dar porque você some e eu gosto de conversar. Mas eu lembrei que ainda consigo, eu  não senti vontade de correr do encontro e isso é muito.


Você me deixou feliz e satisfeita.


thats what she said 




quarta-feira, 24 de junho de 2020

Esse texto é sobre mim

Eu estava andando no meu bairro favorito, da minha cidade favorita e tinha um sujeito disposto a fazer do meu dia feliz. E isso era tudo que a menina de 16 anos que fui e para quem prometi felicidade queria. Mas eu não sentia nada. Teve um outro sujeito que foi a redenção da minha tristeza no maior fim da minha vida, que queria abraçar meus parafusos soltos e me dar a mão. E eu não senti nada. Então o mais maluco, improvável e inesperado aconteceu, ele que foi o homem por quem eu escrevi esse blog inteiro, que revirou minhas entranhas, me fez conhecer a paixão, ele que sempre é alguém que eu quero impressionar, me respondeu com risada e afeto. E pela primeira vez em 10 anos, eu não senti nada. 
Talvez a impossibilidade do encontro tenha exacerbado as coisas. Talvez um dia bom seja uma pessoa. Mas o fato é: eu te senti demais e definitivamente você me tocou sem precisar me tocar. Mas esse texto é sobre mim e sobre o fato deu estar na busca e por isso já ser melhor do que eu supus. Eu te ceguei com todas minhas luzes mas também me ceguei esquecendo de tudo e ficando pequenininha. Esquecendo que sou forte e imensa. Esquecendo que sou capaz. 
O seu interesse foi embora com medo de que eu me quebrasse em mil pedaços quando você não quisesse mais. O que você não sabia é que eu me quebrei porque duvidei sozinha da minha capacidade de aceitar que você chegasse e quisesse ficar.
Eu me fingi de frágil e você ficou com medo da minha dor, sendo que não consegui te dizer que eu já morri e renasci diversas vezes, por coisas maiores e mais pontuais do que uma separação.
Eu sofri a rejeição das pessoas que eu mais admirei e que foram meu porto seguro, mas levantei da cama, peguei minhas coisas e passei a tarde tomando sol no meu lugar favorito. 
Eu sou amiga da rejeição, eu virei íntima do medo. Mas você me lembrou que eu não me abandono mais. E era isso, eu aprendi a só entregar pra quem merece e você, mesmo sem querer, merecia. Por que eu te admiro e isso é tudo. Mesmo sendo loucura porque eu ainda conheço pouco. Eu queria que o seu coração pudesse convencer o seu cérebro. Eu queria me apaixonar para descobrir o que acontece  quando amamos alguém ao mesmo tempo que nos amamos. Que eu mereço gostar só de quem admiro. Eu não quero ser sua amiga porque eu tenho muitos amigos e eu não tenho vontade de arrancar a roupa de nenhum deles enquanto imagino o cheiro, nenhum dos meus amigos faz o meu desejo parecer metáfora de um samba bem tocado. 
Mas nunca vou te falar nada disso porque eu sou forte e quando alguém quer ir, agora eu abro a porta.
Me sinto pronta para minha versão que vai se lembrar desse não-encontro por muito tempo, torcendo para alguém que me faça sentir vontade de escrever uma carta apareça de novo. E que dessa vez eu saiba esperar para escrever e não cegar ninguém nem fingir que sou frágil para sentir verdade. Eu te queria muito, queria que você quisesse receber meu afeto mas não há espaço para dúvidas e lamentações quando eu sei que mereço alguém disposto. 
Que me interesse sempre a vida e meus afetos. Que mesmo que efémeros meus encontros com pessoas que mexam com minhas certezas de certo ou errado, nunca me façam duvidar que eu estou na busca. 
Que o carinho que você me ajudou a construir com seu sorriso, inunde toda sua vida.
Que eu nunca mais faça alguém duvidar que eu sou forte pra caramba. É o que eu mereço.
Sinto sua falta, mais do que do que inventei.