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domingo, 2 de dezembro de 2018

Deixa eu bagunçar você



Não tem nada a ver nos dois. No começo eu me abastecia de um gostar possível e descartável de quem já aprendeu a duras penas que não tem maneira mais fácil de errar do que se obrigando a gostar de alguém. Depois as coisas foram conforme tinham que ser.
Quando a gente se conheceu, da forma mais doida que já aconteceu comigo, eu embelezei as coisas. As vezes cansa viver sem embelezar as coisas.
É um pouco ofensivo para minha existência saber que pessoas como você existem. Completamente racionais e seguras.
Mesmo que sua alegria nunca seja por mim. Mesmo que não sejam poucas as verdades doídas e a certeza da falta. Eu ainda assim romantizei e romantizaria as coisas. Você é um personagem incrível e meu melhor papel é o de contadora de histórias.
Na nossa primeira vez eu chorei porque você é o melhor sexo da minha vida, porque jamais seriamos um casal e porque pela primeira vez depois de ter ido ao inferno por amar alguém, eu vi de perto a possibilidade e vontade de errar de novo ao querer me entregar nos braços de um homem que me amasse, para fugir de quem eu sou. E você me disse as coisas que eu precisava ouvir.
Daqui alguns dias fazem três meses que a gente se esbarrou e eu já ouvi todas as safadezas do mundo da sua boca e em muitos desses dias eu brinquei de ser tua. Ao mesmo tempo me sentindo a adulta que preciso e a menina de 16 anos que sentia desejo de verdade pela primeira vez.
E então eu pedi ajuda ao Caetano e te disse que talvez houvesse entre nós o mais total interdito, mas que você é bonito o bastante, complexo o bastante, bom o bastante pra tornar-se ao menos por um instante o amante do amante que antes de te conhecer eu não cheguei a ser. E depois caí na gargalhada porque é isso mesmo, antes de te conhecer os outros sexos pareciam ensaios.
Eu fujo das verdades da vida quando você está dentro de mim. Você não me conhece e me deseja de um jeito que não me ofende, não me machuca e não dá medo. Então você pega o violão pergunta se eu quero ouvir uma música feliz ou triste e por alguns minutos o mundo é exatamente o que eu preciso.
Hoje consigo ser só. E isso pode ser viver mas viver é lindo e terrível. E antes, quando eu não sabia viver e me sentia amada, ainda era terrível. Hoje eu aprendo a viver, não me sinto amada e acho que tudo bem, eu consigo aguentar.
Eu posso vez ou outra ainda parar por 3h na sua cama, para depois do sexo afagar o gato, olhar para você e ter certeza que eu posso dizer que depois de tudo, eu já gosto de alguém. Mas ai eu sento no sofá para me arrumar para ir embora e lembro que eu insisto em gostar dos outros só pelo prazer de gostar. E decido esquecer você todo dia um pouco pra vida e todo dia muito pro dia. Nada vale nada, as minhas delicadezas não servem para te suavizar e eu tenho que por vezes me olhar nos olhos e dizer ”você não tem mais 16 anos para achar bonito sofrer.”. Eu me levanto e vou embora porque pari de mim a certeza que se não for para me sentir maravilhosa, não quero. E quando me sinto maravilhosa com você é bom demais mas é mentira, são só fantasias do meu ego problemático, do meu passado doloroso e da guarda que eu baixo um tanto quando você me abraça por trás.
Eu quero fugir mas também quero dizer que a gente se diverte junto.
Então me sufoca só para eu sentir um pouco de alivio, me beija com o beijo bom e me olha nos olhos dizendo alguma putaria. Dai então eu levanto, me iludo um pouco que você também acha que nunca mais vai ter um sexo tão bom com alguém e por isso, uma hora ou outra vai mudar de ideia. E então fico triste.
Entro no carro, coloco uma música e dou risada, porque eu nem gosto de você.
E vivo minha vida, ouvindo minhas músicas, escrevendo minhas coisas, cuidando meus bichos até você me chamar de novo e eu responder em 5 segundos enraivecida e em chamas.