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segunda-feira, 18 de março de 2019

Sintonia



Ele é a ultima vez que eu faço isso. Começou por causa de uma limonada e do meu ego problemático que ainda procura no menino mais bonito do colégio esquecer que os outros meninos mais bonitos do colégio sequer olhavam para mim. Eu já tinha conhecido o cara mais interessante do mundo, o melhor sexo da vida e tropeçado num outro que me fez lembrar que as vezes é fácil gostar de mim. Não dava para temer e tinha tudo para ser fácil. Eu iria, me certificava que ainda gostava de beijar na boca e não sentiria vontade de correr no escuro depois de transar sem tesão. Não seria possível que eu, dona de todas as teorias sobre relacionamentos, das tardes de terapia e da certeza que era impossível gostar de alguém novamente, só pelo prazer de gostar, ficasse abalada por um garoto. 
Mas a gente se beijou e aquilo acendeu dentro de mim, desceu goela abaixo, corria pelo sangue, saía na calcinha. Eu gostei mais do que esperava de andar do lado dele e só depois pensei se tentar dar a mão era intimidade demais mesmo a gente indo ficar pelado junto. Ele tem cara de bonzinho com mente suja e eu quero rasgar a roupa dele ali mesmo. 
Eu que tive medo de não me sentir mulher de novo, acabei vendo o outro do sexo incrível ir embora da minha memória com vergonha da sintonia que tinha ali. 
Mas calma, não pira. Meu coração dispara mas eu mando ele parar. Ele é o menino mais bonito do colégio e eu sempre passei longe do tipo dele e das 542 meninas bonitas que nem sei se enxergam as mesmas coisas que eu mas estão muitos passos a frente. Tudo bem que ele tem essa coisa bonita de querer ser gente, mas não da. Maior legal transar com a louquinha, engraçada e mulherão mas é só isso. Esquece. 
Nada feito. Só piorou. Acordava e ia dormir com ele engasgado aqui. Fiquei inconformada. Como um garoto pode despertar em mim sentimentos tão nobres e tão obscenos ? 
Mas aí concluí: isso é coisa de quem tem tempo pra pensar nele. Claro, eu fico em casa o dia todo, no silêncio das minhas coisas, dividindo mais do que devia, ele entendendo e ajudando, é claro que acabo pensando besteira. 
Daqui a pouco vou para viajar e nem vou me lembrar mais de como tudo dentro de mim sorriu com um beijo. Vai ficar tudo certo. 
Ficou nada. Ele foi junto, tirou fotos, nadou comigo e me fez entender que eu precisava mesmo assumir que depois de velha, fiquei besta. E que nenhuma teoria, faculdade, modernice ou independência me fariam mudar quando alguma coisa acende dentro de mim e me faz sentir viva.
Amor de pica, pensei. Com certeza. Mas ele insiste em saber quando eu não to bem, a gente conversa sobra tanta coisa e se ajuda a entender os caminhos da vida. Coisa chata, não?  Então vou fingir não adorar principalmente porque eu já nem sabia mais como era adorar alguém novinho em folha. Ah, que que é isso! Deve passar com um novo menino bonito. Olha lá aquele me olhando no meio da folia, bonito até demais, aquele outro que escreve, o outro que ama suas musicas e me chama de gatinha. Nada. Nenhum foi capaz, nem por um segundo, de me levar para passear em outros tormentos. Ou outras alegrias. Qualquer outra coisa que seja. 
Aí veio a ideia brilhante. Será que se eu falasse a verdade, que era mais do que amizade e sexo bom e que eu queria muito ver ele feliz, não me curava? 
Será que se eu, por um minuto apenas, parasse de sentir tudo isso de dentro da grandiosidade que eu inventei e enxergasse de perto a minha loucura somada a impossibilidade e as verdades de como tudo foi só um vislumbre de dia feliz, parava de pensar nele? 
Só piorou. De frente para ele e suas constatações tão absurdas a respeito de tudo, a generosidade, a preocupação e o cabelo perfeito para fazer carinho...adivinhem? 
Sim, tudo só cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança, sem reciprocidade e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento. 
E assim como o outro foi embora porque era diferente demais, o outro foi embora porque ela era parecida demais, ele também bem foi embora, mas tudo bem, aprendi a ser grata pelos segundos de alegria e esperança imensa em sentir que a gente pode gostar de quem a gente quer. E qualquer hora outro vai aparecer e eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque sentir isso e infinitamente melhor que não sentir nada e pessoas como ele me lembram o mistério da vida. Não entendemos nada, mas continuamos insistindo. 


terça-feira, 12 de março de 2019

Coração do folclore nordestino



Eu achava que minha lua de mel ia ser la, no tempo da inocencia amorosa e quando eu ainda acreditava cegamente no amor romantico. E acabou sendo um pouco. Eu sabia que eu era do mar antes de me entender como gente e sempre ouvia minha mae dizer das vontades. Embarquei para Pernambuco no meio da minha segunda pior crise de bobeira e algumas semanas depois do meu cachorro ter morrido sem eu poder fazer quase nada. Depois da bobeira eu sou infinitamente mais forte, nem o voo com o dobro de tempo dos que estou acostumada me fez mal. Chegamos e as coisas se desenrolaram da forma que quase sempre é, com muita gritaria e sorriso. Não sei muito bem como descrever o lugar pois eu estava mais mergulhada na sensacao de poder ser eu, tentar não pirar, de saber, dentro do meu coração que não tinha lugar nenhum no mundo que eu queria mais estar do que ali e mesmo me achando muitas vezes desajustada, eu sou sortuda pra caramba. Pernambuco tem as pessoas mais educadas que eu ja conheci. Passei por alguns momentos que assustaram mas o mar é quente então ficou fácil suportar. Fui a uma festa a beira mar e em determinado momento me dei conta que estava sendo feliz pra caramba. Caminhei com o sol no rosto e os pés na água perto da melhor pessoa do mundo e tenho sempre certeza de que é quem mais luta por mim nessa vida. Tive que ser minha companhia ideal e mergulhei no mar mais bonito que já vi. Voltei e me senti capaz. Conheci um pedacinho de Alagoas e as vezes sentia aquela culpa por estar feliz, mas a terapia me ensinou a calar a boca. Dava para sentir um pouco aquele lance de que a vida não e facil mas tem momentos lindos demais. Vale a pena.
Tive que engolir a maldade no coração e assumir que as vezes da para gostar de quem a gente nao gosta muito. Encantei, me deixei encantar e segurei a onda. 
As vezes acho que nao aproveitei o suficiente por causa da bobeira, mas hoje sei que nada é por acaso. Quero muito um dia voltar, talvez sozinha, refazendo o caminho que eu me dei a mao. 
Como cena de filme, o cenário era o por do sol mais lindo que já vi, passou uma jangada que nela a musica me lembrava ``eu sou meu proprio lar``.


O Brasil não merece o Nordeste. Um dia eu fico por lá.