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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Muito além do ninho de Mafagafos.


É tudo uma questão de escutar o coração...

De mochila nas costas e curiosidades insolúveis me preparo para o primeiro dia de aula da faculdade.
Quis o destino que um deficiente auditivo se apaixonasse pela minha mãe, muito antes dela conhecer o meu pai e a ensinasse a linguagem brasileira dos sinais e muito tempo depois ela ensinasse a mim e eu  hoje escolho a Fonoaudiologia, o curso que vai muito além de ''ensinar a falar direito''. É o fonoaudiólogo quem cuida da voz, da audição e de alguns tipos de problemas de ouvido, cordas vocais, faz testes infantis, ajuda crianças especiais etc. Escolhi porque supria minha vontade de ajudar, me colocava na área de biológicas e porque quando eu viajei no carnaval com meu namorado, conheci um menino mudo que me fez pensar muita coisa sobre a vida dos deficientes auditivos.
Me lembrei de tantas crianças mudas que eu via na Faculdade de Medicina, quando fiz um trabalho voluntário lá em 2009. E como cenas de crianças se comunicando sem a fala e de pais fazendo de tudo para entender e serem entendidos mexiam comigo. Conversei com meus amigos, li sobre o curso e decidi.
Era para ser Fono.
Correndo loucamente atrás de uma vaga na Universidade Federal de Minas Gerais, fui golpeada mais uma vez pela vida e recebi uma nota ridiculamente baixa na redação do Enem (depois de fazer cursos extras, passar horas em monitorias e receber  800+ das correções de um professor exigente no cursinho), nas outras matérias fui bem, mas nada no mundo me fazia acreditar em uma possibilidade de entrar na faculdade em 2014. Não conhecia direito as regras do ProUni e tinha medo do Fies. Meus pais não iam pagar uma faculdade que não fosse pro curso de Direito (o sonho deles para mim) e eu já via mais um ano de ralação no cursinho.
De fato não entrei para a UFMG, mas depois de um tanto de sofrimento consegui uma bolsa na PUC Minas e agora fico imaginando a correria e a ralação. O amor pelo curso que provavelmente virá ainda maior e quem sabe cursos extras, estágios e intercâmbios.
Faço esse texto para me lembrar do porque escolhi ser fonoaudióloga, pelo amor ao próximo e principalmente as crianças. Se for preciso, ler e reler esse texto nos momentos de dificuldade e maior ralação. Para me lembrar do orgulho do vô, que sempre - desde pequenininha - foi tão importante para mim, para me lembrar de calar a boca de alguns ''familiares'' que nunca torceram por mim.
Para ser quem eu quero ser.


O desafio agora é outro....