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quarta-feira, 11 de março de 2020

Por ser de lá


"O sertão é dentro da gente. E esse sertão não é feito apenas de aridez e provocação, mas também de veredas, de estações de alívio e beleza em meio à solidão."

Estive por 19 dias perto do mar e longe dos meus pais. Foi preciso reunir todos os resquícios de coragem desses anos e enfrentar que tenho um bocado de defeitos mas não mereço ser tratada mal. Foi andando um dia no metrô daquela cidade que acende tudo em mim, lembrando que uns anos atrás eu nem saia de casa sozinha, que eu sorri o maior sorriso do mundo. Que coisa boa ser feliz.
Ai eu me acostumei a ficar sozinha e até preferi. Peguei um carro, desci na praia vermelha, assisti o pôr do sol, observei as pessoas e só para não perder o costume, esperei por um cuidado que não existia.
Quando eu era mais nova e a minha casa vivia cheia de gente e eu gritava com meus pais quando eles não queriam me deixar sair, meu pai dizia que essa história de amigo é besteira, que amigo é pai e mãe. 
E eu precisei ir a 350km deles para lembrar dessa frase e chorar um pouquinho. Claro que eu tenho algumas pessoas que sentem carinho por mim. Mas ninguém atura tudo. Tá ai a importância de ser a pessoa mais importante do mundo, não vou esperar que aturem.
Ar condicionado não dá. 
Ou as vezes eu pirei de vez e fiquei com ciúme. Te amo com lágrimas nos olhos, ciúme e com vontade de mandar todo mundo embora e ser só nós duas como foi por tanto tempo desses 5 anos. Que raiva.
E então eu fui guardando, guardando, até que explodi e sei lá, perdi a graça. 
Conheci a alegria sublime quando a menina de 17 anos que ouvia Chico Buarque o dia todo encontrou a mulher que pegou seu ingresso, na sua cidade favorita e viu o Chico subir ao palco. 
Aí voltei e realizei o sonho da minha vó e o meu. Alegria, estrela, estrela, estrela. Mangueira no coração.
Sorriso no rosto sem precisar de beijo na boca. Como é bom estar viva.
Mas ai a vida deu tapa na cara e eu emburrei.
Mimada? talvez. Mas melhorando muito, ou pelo menos consciente da necessidade. E aí, somos instantes. Se eu quero porque eu quero, não é o maior defeito do mundo.
Solidão não dói.