Me lembro como era preocupante e quase enlouquecedor não conseguir andar sozinha por aí, não pegar um onibus e descer quando e onde eu bem quisesse. Pois bem, depois comecei a andar sozinha por aí. Foi então que minha preocupação - insegurança e comparação - me questionavam que por não ter um trabalho, eu não era gente o suficiente.
Depois comecei a me preocupar se um dia o curso que escolhi me traria algo de bom e isso me paralizava quase todos os dias. A vida embrulhou tudo e eu escrevo este texto sentada no computador do trabalho, com um cachorro que eu salvei no colo.
Tantas incertezas, medos, preocupações infundadas - e a minha terapeuta - me fizeram tentar mudar os meus ''E se der tudo errado?" por "Por que não tentar?".
O que a vida quer da gente é coragem. E acho que é isso que eu tenho dado.
Eu estou só. É corajoso dizer isso, mas cada dia mais confortável. As vezes me assombra um pensamento junto com a mesma chateação e só eu sei como tenho que me vencer e me acolher nesses dias. Ninguém pode fazer por mim. Sou mais eu e por mim quando busco minha cura e que curioso, saber que querer buscar minha cura, me cura todos os dias.
Daqui alguns meses sou médica veterinária de verdade. As vezes acho que nem sei como cheguei aqui, mas sei sim. Foi vencendo muito a vontade de desistir por me achar incapaz. Acho que essa conquista não é o fim do dia, mas o começo do dia que vem, e pela primeira vez acho bonita a travessia e possível o sonho acontecer.
É bem maluco dizer mas agora gosto de ficar calada e sozinha, tenho poucos medos e absolutamente todos os meus sonhos envolvem mais as minhas realizações do que as dos outros.
Tenho vontade de sentir de novo mas é tudo tão seguro por aqui que sinto que me devo bons anos de autoconhecimento antes de deixar alguém entrar.
Não me amar o suficiente para amar outra pessoa, dos meus erros, o maior.
Pela primeira vez na vida, senti que podia ser tudo. E mesmo assim, queria ser dele. Não deu. E não dará enquanto o pensamento for esse. Tormentos.
Mas é isso, a Adriana de 2020 queria dizer para a Adriana de 2010 que abriu esse blog que vai ter onibus sim, vai ter noite sozinha, praia, festa, cavalos amorosos e bravos, chefes, salários, carnavais. E que a Adriana de 2030 ainda faça todo esse esforço para acreditar que o amor existe e ver beleza na travessia.
