"Você não é uma pessoa difícil de ser amada. Você está tentando." Foi isso que eu tive que me dizer quase todos os dias do ano da graça de 2020, onde o mundo inteiro está lutando para sobreviver, para não surtar, para não ir embora, para ter esperança. Eu tenho medo da tal maturidade me banhar pra sempre de amargura. Eu não amo mais ninguém. Eu me chamaria de doida - e como diz o Rosa, nessa casa (eu) ninguém diz a palavra doida - se me contassem no final de 2019 que eu me afastaria de tantas pessoas que naquele momento eram meu suporte, que eu colaria grau na faculdade por um computador, que eu estaria ganhando dinheiro com o que ando fazendo, que eu veria meus amigos um número de vezes que desse pra contar na mão. Que eu assumiria pra mim mesma, de uma vez por todas, que eu amo romance e isso seria a chave para parar de me sabotar tentando desesperadamente sentir algo por homens que claramente não me queriam, só porque sentir algo era melhor que não sentir nada. Seria loucura dizer da angústia e solidão que senti mas que eu estou viva, estou de pé. Seria impossível pensar que eu viveria o dia mais feliz da minha vida ao lado de uma amiga e meses depois eu veria essa amiga passar pela maior dor da sua vida sem eu poder lhe dar um abraço. Eu não amo mais ninguém porque de repente todo mundo virou egocêntrico e eu também virei. Eu tento tento tento e muitas vezes não consigo melhorar. Mas eu mereço ser amada. As piores crises desde 2012 apareceram e eu sobrevivi, mesmo tendo que encarar que essa sombra talvez me persiga pro resto da vida. Eu quero ser potência, ser rio que corre pro mar mas viver é difícil. Eu quero ser mais gentil comigo e com meus pais, quero ler, botar os pés no mar, me encontrar comigo. Quero me vacinar e poder sair sem medo da morte. Quero não pensar em nada que seja irracional. Quero sonhar grande e encontrar meu caminho. Quero ser abençoada pelo Deus que acredito e que acredita em mim. Quero dançar com a vida. Quero me amar.
domingo, 27 de dezembro de 2020
quarta-feira, 21 de outubro de 2020
Amorosa - mas não de 1977
Amorosa, como o disco do João, mas não tão velha, apesar das nossas piadas e da minha surpresa em como a alguém que mal saiu dos 20 anos, saiba tantas coisas e me faça sorrir e revirar os olhos. Eu nunca tinha beijado alguém pela primeira vez dentro d'água. E desde que eu me entendo por gente, o que eu mais amo na vida é estar dentro d'água . Mas eu também nunca tinha me enfiado num date que obrigatoriamente duraria 24 horas. Primeiro eu achei que não ia acontecer e eu somaria essa história aquelas em que conto de um jeito que meus amigos riem até a barriga doer, mas você foi. Hoje eu sou livre. Ganho meu dinheiro, não tenho tanto medo da morte, consigo sentar e avisar que estou sentindo medo mas que vou dar conta. Só a droga do romance que não me deixa em paz. E então você me lembrou que é isso, mesmo com todas as horas de estudo, mesmo com os perregues, a terapia, todos os livros, as crises, mesmo levantando sozinha do mais fundo que cheguei e sabendo da minha força, não tem remedio e nem cura porque eu sou cafona. Eu amo um romance. Isso não tem nada a ver com futuro, eternidade, juras. Eu até acho que a gente nunca mais vai se ver, porque virão outras garotas que entendem dos teus números, investimentos e bolsas e talvez por aqui venham outros caras que gostem de carnaval, que me achem incrivel trabalhando com qualquer coisa e achem legais as coisas que eu conto como se fossem novidade. Mas foi tão fácil gostar do seu cheiro. Mesmo sendo um saco eu falar do meu passado, foi fofo você rir e a gente fazer piada por saber que falar me cura. Foi tão bonito te ver querendo me deixar confortável e segura, porque o mundo tá uma loucura e a gente pode morrer porque beijou alguém. Foi tão gostoso ficar agarrado e usar meu melhor shampoo porque você queria dormir sentindo o cheiro do meu cabelo. Foi como ser feliz de novo e eu odeio isso porque eu já sei ser feliz sozinha mas eu me encontrei a parte de mim que não tem medo e é justamente por isso que escrevo, eu não tenho medo que você descubra, eu não tenho medo que você leia, porque independente do que vier, eu dou conta. Na verdade é possivel ser feliz sozinho mas nem sempre eu preciso. Talvez eu não seja tão sensacional, talvez eu não seja Deusa, talvez você tenha fingido tudo e eu nem ligo. Você me levou ao prazer em pouco tempo que parecia já conhecer a casa. Todas as piadas, a mulher brava porque eu queria lavar um copo, o cara achando que éramos famosos, você buscando sorvete e eu te olhando cozinhar e achando poesia, tudo isso era uma musica do João Gilberto no meu coração. Eu queria te levar na minha cidade de sonho e te ver olhar o mar, ir com você nos museus e a gente dividir um com o outro todo conhecimento de uma vida amando ler e ir aos museus. Mas acho que não vai dar porque você some e eu gosto de conversar. Mas eu lembrei que ainda consigo, eu não senti vontade de correr do encontro e isso é muito.