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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Era para ser 15 dias


Quantas vezes morremos e renascemos numa mesma vida? Não sei. Mas me lembro com exatidão de como um dia de março de 2020, no meu lugar favorito do mundo, eu senti como se ali, talvez realmente completa pela primeira vez na vida, estivesse chegando ao fim uma temporada da minha vida - com final feliz. Onde eu estava realizando sonhos, encarando medos e acreditando que sim, o futuro viria e muitas vezes eu estaria sozinha, mas já tinha aprendido o caminho para meu próprio colo. 

Então veio a pandemia. Então as pessoas que eu admirava não se importavam tanto assim com o avô do próximo morrer. Então o homem que comanda o país debocha dos mortos e tudo certo. E eu, que sequer aguentava as férias ociosas sem ter uns pensamentos horríveis me vi largando emprego, formando e vendo a juventude sair pelo ralo. Eu sou privilegiada, eu posso ficar na cama chorando minhas incertezas. Mas o tempo não volta. Muita gente que eu amo está em sua própria batalha para não enlouquecer, mas muitas vezes pensar nisso não alivia o sentimento de ser a pessoa mais sozinha do mundo. Fazem 7 meses que eu não saio de casa, fora duas idas ao médico e umas 5 ao supermercado. Morri, não teve jeito. Abri mão da meu único orgulho em não pedir ajuda para o problema que sei que mais ninguém além de mim é capaz de resolver. E ainda tenho sonhos, mas hoje sei que a vida segue tranquilamente sem mim. Dormir entorpece a dor de não saber mais quem eu sou. Eu não interesso a ninguém e pensar nisso me dá até alívio. 

Migalhas de estrelas fantasiadas de libido. Mudei de terapia e dobrei a dose do remédio, o que ainda não descobri como fazer é renascer de novo. Um dia, um dia recomeço....