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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Irene


A sua sala cheia de delicadezas e seu medo de me ferir sem saber quem eu era direito. O seu pesar por não ter me visto nascer, o meu pesar por não ter ido me despedir. E por não ter compartilhado contigo essa coisa louca de ser neta única e a única menina depois de você. O teu ombro magro me amparando, as risadas, meus trejeitos, mimos, rejeições. O olhar de criança assustada. Duas crianças assustadas. Os livros. A minha mãe. Seus olhos verdes e seu sorriso me chamando de sua irmã. Seus cabelos brancos e a meu medo de não ser suficiente. Sua certeza em me dizer que eu era. Você presente, mesmo perdida na floresta escura do fim da vida. A minha busca por outras de você, minhas florzinhas amadas.
A rosa que você me mandou para dizer : estou aqui. O seu abraço frágil e cheio de força. A música.
Todas essas coisas juntas num só ponto : o ''eu te amo, vó'' entalado na garganta e adiado por um tempo estranho e cruel. Na nossa história o tempo não serviu pra nada, só pra nos separar. Mas o amor junta tudo. Eu sinto sua falta, eu sinto falta de ter conhecido melhor a mulher que me recebeu numa vida e numa casa nova.
A mulher que me salvou. Que me juntou ao meu pai, que fez dele esse cara especial e estranho.
Eu sei o que é ser a única e eu também sou você.


A morte não é o fim!!!



Um comentário:

  1. Aconchego e amor multiplicado.
    Avós deveriam viver pra sempre.
    Parabéns pelo texto maravilhoso

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Se você tem medo do amor, você tem coragem do quê ?

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